sexta-feira, 17 de junho de 2011

A promoção da saúde e os determinantes sociais


É muito preocupante a situação brasileira quando se trata do enfrentamento das doenças crônicas em especial as não transmissíveis. Nosso sistema de saúde ainda patina na formulação de um modelo de atenção que priorize ações para estes agravos e prefere focar ainda, na maioria dos serviços de porta de entrada, em ações de intercorrências, pronto atendimento. Mesmo nessa perspectiva ainda não garantimos a plenitude do acesso com qualidade.

A conseqüência desta opção arcaica é visível nos indicadores de mortalidade que apresentam números expressivos de morte por problemas circulatórios, vasculares, metabólicos ou gastos alem do disponível para internações por AVC, IM, DM, HAS entre outras relacionadas, que poderiam ser evitadas.

Neste contexto, surge um revigoramento das posições comportamentalistas de promoção da saúde, que conduzem no imperativo os programas de mudança de comportamento individual: não fume, não coma gorduras, faça exercícios. - Escute o que o ESTADO diz, ele sabe das coisas, comporte-se bem e viva mais. Uma postura bem norte americana, bem “CDC”.

Ora, esta é uma opção.

A outra, ainda nesta linha, organiza as linhas de cuidados referentes à estes agravos crônicos, refinancia e capacita a atenção básica para o atendimento mais qualificado destes crônicos, até, com algum sacrifício, pautam a necessidade de integralidade entre as ações de promoção comportamentalista e assistência para um resultado mais humano e eficiente.

Negligenciar estas necessidades é no mínimo uma irresponsabilidade. Devemos estimular estas posturas sim, com financiamento, saberes, apoio técnico, supervisão, monitoramento, avaliações, e os tão necessários aprimoramentos das relações interfederativas na construção da rede de atenção à saúde e sua condução a partir da atenção básica de fato resolutiva e universal.

Mas, continuaremos a ouvir os gritos dos excluídos, das iniqüidades sociais, da falta de autodeterminação das comunidades nos territórios das equipes de atenção básica, e das piores conseqüências destes determinantes na produção da saúde. Afinal, o SUS ainda acredita que: SAÚDE É UM PRODUTO SOCIAL.

Às vezes se esquece.

Veja uma comunidade, destas atendidas por uma das equipes nossas, destas que necessitam de nosso apoio para catalisar seu desenvolvimento social capaz de produzir saúde. Como exemplo extremo, veja esta comunidade no sertão do nordeste. Agora veja nesta comunidade, um senhor, de meia idade mais com uma aparência envelhecida, com um cigarro de palha na boca e com orgulho de ter conseguido comprá-lo, magro, recostado no portal de sua casa depois de uma lida durante todo o dia com uma enxada sob o sol equatorial, calos nas mãos, depois de comer uma carne de lata e ser um privilegiado por isto naquelas bandas, em outros termos, um cidadão “puro cerne nordestino”. Voce sabe que não são poucos os brasileiros em todas as suas regiões que se assemelham à estas condições.

Ai vejo um dos nossos trabalhadores de saúde, capacitado pelos programas comportamentalistas a dizer: - “não fume, faça exercícios, não como gordura...”

Pode ser até pior, poderia ser mulher, negra, deficiente física, ser favelado em regiões metropolitanas ou outras das incontáveis características sociais excludentes que continuamos a esquecer.

Confesso que ainda sinto um quê de vergonha deste SUS.

Promoção da saúde é só comportamento?

Parece que os determinantes de saúde e as iniqüidades não são dignos de um enfrentamento adequado pelo SUS.

Será mesmo que a Presidenta concorda com uma postura de promoção da saúde que não considera a necessidade de diminuir as desigualdades sociais ou isto não tem NADA a ver com promoção?- PAÍS RICO É PAÍS SEM POBREZA?

Estamos daqui clamando por uma promoção de saúde que seja mais responsável, que considera a realidade local para construir uma proposta de trabalho, que de fato enfrente os determinantes sociais. O Conasems lutou para que a Política Nacional de Promoção da Saúde incluísse mais do que ações imperativas comportamentalistas individualistas e entre os seus eixos prioritários incluímos a promoção do desenvolvimento sustentável, a prevenção da violência e estímulo à cultura de paz

Nossos militantes do movimento dos secretários municipais de saúde são os que garantiram estes eixos. Nós sabemos que não há paz sem justiça social.

Marcos Franco – médico sanitarista, assessor técnico do CONASEMS (Núcleo de Promoção e Vigilâncias)